sábado, 13 de novembro de 2010

TRAMPOLIM DO FORTE / COMENTÁRIO

Infância brasileira em perigo


A sala de cinema acomodou cerca de 100 pessoas durante a exibição de Trampolim do Forte

Daiane Souza

Na data em que se celebra o Dia Nacional da Cultura Negra, cerca de 100 pessoas assistiram ao filme Trampolim do Forte, dirigido por João Rodrigo Mattos. A exibição foi parte da programação do seminário Qual é a face negra da mídia?, promovido pela Fundação Cultural Palmares, que aconteceu nesta sexta-feira, 5 de novembro, no Museu Nacional Honestino Guimarães, em Brasília.

Produzido em Salvador, a capital mais negra do País, o longa-metragem retrata dramas sociais vividos por crianças e adolescentes, tais como exploração sexual, tráfico de drogas, pedofilia, preconceito, trabalho infantil delinqüência... E para João Rodrigo Mattos, não se trata apenas de uma construção cinematográfica, mas de um registro da infância brasileira na primeira década do século XXI.

ATORES MIRINS - Adailson Dias dos Santos, 14 anos, e Everton Wallace Machado Costa, 16, são atores do filme. Adailson, que interpretou o personagem Felizardo, conta que a atuação foi sua primeira experiência como ator e que mudou sua visão em relação ao local onde mora: "Cada uma das cenas me marcou muito, porque de muita coisa eu não sabia e porque mesmo sendo filme, é real".

No papel, Adailson é um garoto trabalhador que se sente explorado pela mãe, já que esta não usa o dinheiro conquistado para garantir o bem-estar da família. Já o personagem Fuleirinho, interpretado por Everton, vítima da sociedade, rouba para satisfazer as necessidades e usa Felizardo como uma espécie de "laranja do crime": inclui o garoto no universo da marginalidade, escondendo as carteiras que rouba no isopor que o amigo usa para vender picolés.

Everton compara o cotidiano do filme à comunidade onde vive. "Tudo o que acontece na história é o que acontece todos os dias na Barra. A polícia intimidando, a prostituição, o tráfico", conta. "Isso acontece porque o Estado ainda é muito cômodo. Enquanto as pessoas não lutarem, tudo vai continuar o mesmo", completa.

Para o diretor João Rodrigo Mattos, sua obra é uma oportunidade para que a sociedade reflita sobre os riscos a que as gerações mais jovens estão expostas. "Em dez anos, poderemos rever o filme e perguntar se algo mudou", provoca.

Trampolim lúdico ______________________________________________________

Denise Porfírio

Trampolim do Forte é uma obra de ficção de características marcantes da maravilhosa fábrica de filmes do Nordeste do País. A cultura, a história, a arquitetura, os hábitos e a geografia de Salvador são importantes elementos narrativos do enredo.

Menos produto de entretenimento e mais instrumento de consciência social, o roteiro, apesar de lúdico, aborda temas que provocam diálogo com o público por meio de uma reflexão sobre os ideais da infância no Brasil.

Baseado em experiências reais e protagonizado por crianças, a obra investe na idéia do cinema transformador de conceitos e atitudes em ações positivas para o espectador. Fruto de um jovem diretor, João Rodrigo de Matos, o trabalho reafirma a importância da produção cinematográfica sobre a cultura afro-descendente no País.

A obra, pelos expectadores:

"Gostei bastante do filme, porque mostra um pedaço do Brasil que está fora do eixo Rio/São Paulo" (Paulo Vítor, 25 anos).

"O filme é maravilhoso, por mostrar, de maneira sutil, a exploração que tanta gente ignora, ou faz que não vê" (Maria Gabriele, 13 anos).


Extraído da Fundação Palmares

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